domingo, 8 de maio de 2011

Pequeno ensaio sobre a simplicidade

A primeira vez que resolvi escrever um texto foi de repente. Passava na televisão um documentário sobre o jogador Garrincha, e apaixonado pelo futebol senti a inusitada necessidade de escrever algo. Escrevi um poeminha onde repetia o apelido dado ao atleta por Armando Nogueira, “pássaro de pernas tortas” e dizia que ao jogar tentava imitá-lo. Era uma mentira porque até então eu não o conhecia, mas havia esse sentimento de melancolia por não conhecê-lo e pela vida dele ter sido tão difícil quanto sua genialidade. Ah, e eu estava por me mudar de cidade (de Avaré para Itaí) e isso estava me torturando. Expressar essa melancolia foi talvez o que tenha me levado a escrever.
Escrever é libertação. Desde então quando não entendia tanto o que eu sentia me debruçava sobre uma folha de caderno e escrevia. Depois ao ler acabava me entendendo melhor. A poesia é algo que muitas vezes vem sem muita explicação. Para mim serve para representar de forma instantânea o que eu sinto em determinado momento. Registro o que sinto e isto ajuda a entender o que penso e o que faço. Hoje lendo a maioria de meus primeiros poemas vejo o quanto era ingênuo e finalmente consigo perceber a importância de meu amadurecimento. E para quem lê? Qual a importância dos meus sentimentos para quem apenas lê?
A primeira vez que ouvi a música “Há Tempos” da Legião Urbana foi inesquecível. Eu me encontrava em excursão com minha turma de escola na cidade litorânea de Caraguatatuba e enquanto eles brincavam num lago em frente a um barzinho eu os observava ouvindo o que tocava na rádio do local. O locutor anunciou a nova música de minha banda preferida da época – 1990 – e logo nos primeiros toques, nos primeiros versos aquela música me passou uma alegria que explicava tudo o que eu sentia naquele momento. Talvez eu esteja tentando ser entendido de uma forma um tanto difícil. As letras de Renato Russo foram escritas em cima de tudo o que ele sentia e entendia. A gente ouve, lê e também sente e entende. Assim é com a poesia que escrevemos em torno do que sentimos e entendemos que outros lerão, sentirão e entenderão.
Posso parecer presunçoso, mas, proponho uma troca de informações: ao escrever o que sinto e o que penso pretendo ser lido para que você na sua solidão tenha o mesmo estalo, a mesma descoberta e a mesma sensação que tive ao ouvir a canção da Legião. Lá naquele dia de sol enquanto os gritos de alegria de meus amigos ecoavam, eu ouvia os versos que dizem até hoje coisas tão verdadeiras e que embora estejam numa letra de uma música não deixam de ser poesia. Um de meus poemas presentes nesse livro foi feito naquele dia e até hoje ao lê-lo tenho a incrível sensação de alegria sentida naquele momento.
A literatura é isso: intensa troca de informações pessoais e os pensamentos que externamos através dela nos faz incrivelmente mais fortes. Quem lê com certeza está quase sempre tendo a chance de comparar o que vive com o que é vivido por quem escreve ou pelos personagens criados pelos escritores. Então peço atenção ao que escrevo e se possível se me encontrar na rua e quiser conversar a respeito, esteja à vontade amigo leitor. Sou eu por inteiro fazendo algo de que não consigo me desvencilhar. A literatura para esse ser aqui é tão forte quanto à disposição que sinto em querer que o meu futuro seja o melhor possível.

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