sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ô Crianças... Isso É Só O Fim... Só O Fim...

Tudo porque toda noite prometia...

A noite prometia e ele começou a se arrumar logo após “Os Trapalhões”. Algumas risadas já não tão fáceis como antes, pois, Zacarias, Muçum, Dedé e Didi já começavam a perder aquela manha que fizeram deles humoristas populares no Brasil todo e então um banho demorado. Perfume, uma penteada na cabeleira e a roupa que ele comprou na semana. Jantar ele já tinha jantado. Tomou um café preto e escovou os dentes com capricho, não se esquecendo do gargarejo depois. Encontrou os amigos na esquina e com eles partiu pra noite porque naquele tempo a noite sempre prometia.
Pararam no centro e foram ao Salloon Country Bar para as primeiras da noite. Tomaram umas cervas e ele ficou pensando porque afinal de contas caprichava tanto no hálito se logo depois teria que comprar um chiclete hortelã para disfarçar o gosto da bebida. Conversou aos berros, a música tocava alto, Titãs, Engenheiros, Ultraje e Legião se alternavam no aparelho de som do Ari. Combinaram de dar uma volta, ele sugeriu um oito. Saíram dali, viraram e passaram em frente ao bar do Ambrósio e depois atrás da igreja e passaram em frente ao bar da dona Luíza e fizeram a volta passando novamente pela rua em frente à pensão do seu Sarto para subir o quarteirão da Flipper Dance.
A noite prometia. Carros de outras cidades da região já faziam suas voltas de reconhecimento e ele e seus três chegados resolveram parar na esquina da casa da família Borba. Conversaram uns assuntos meio furados, como por exemplo, o que fariam se tivessem mais grana. As meninas, as garotas, as mulheres da cidade começavam a passar por eles e aquela era uma noite normal de domingo.
Dez da noite resolveram entrar na Flipper Dance. Passaram pela cortina vermelha e se aproximaram do centro do salão. Havia uns garotos dançando passinho e eles ficaram observando. Os quatro não eram de dançar, mas de observarem movimentando um pouco seus corpos. Cumprimentaram uns caras conhecidos e ouviram uns gritos do discotecário (hoje conhecido como DJ) era o Netinho nessa época, posto já ocupado pelo célebre Salada. Eram tempos de Alternativa FM, a primeira rádio pirata de Itaí. Netinho comunicou um novo hit, um som do guns chamado “Sweet child o‘mine” e muitos que estavam fora entraram e ninguém ficou parado. Ele também se viu levado a balançar o corpo pra valer, batendo cabeça com os olhos fechados e a sensação que ele teve foi indescritível. Anos depois essa sensação sempre lhe vem à mente quando tem que responder alguma coisa a respeito do que é a felicidade.
O toque de guitarra de Slash virou anos depois o seu toque de celular. E aquela noite prometia muito mais do que algumas horas de som e fúria porque por acaso um de seus amigos pediu pra que ele fosse buscar um hi fi e justamente quando ele estava chegando próximo ao bar foi que ele viu aquela gatinha que ele sempre observava de longe na escola. Nunca a tinha visto na Flipper e de fato aquela era a primeira vez em que ela tinha ido. Estava visivelmente encantada e ele encantado pela presença dela. Era hora das lentas e ao som de “Still Loving You” dos Scorpions ela ficou parada junto a uma amiga olhando para sua direção...
Ô crianças, isso é só o fim... Isso é só o fim...