domingo, 19 de dezembro de 2010

Resenha musical - "Fruto Proibido", Rita Lee & Fruto Proibido

        Logo de cara um sonzinho setentista (afinal o album é de 1975) com um tecladinho que acompanha a voz deliciosa de uma Rita ainda muito jovem, com aquelas quebradas muito bacanas. A guitarra se apresenta entremeando uma cozinha básica. É rock básico com coralzinho ao fundo. A banda é muito boa (melhor dizer, era?).
        "Agora Só Falta Você" é um som que eu já ouvi muito. Ouví-la no CD com atenção é diferente. Na verdade o que eu ouvi muito foram as versões. A original é bem melhor por conta dos solos de guitarra que nas releituras acabam sendo modificadas. A bateria faz um acompanhamento muito interessante também. Pra ouvir no volume máximo! Ainda por cima a letra diz uma verdade: "Nem tudo que eu faço existe um porquê...".
        "Cartão Postal" é um blues feito pra testar os limites vocais de Ritinha. Impossível não se lembrar dos Mutantes nessa canção. Na verdade isso é natural pois Rita era metade deles e bem fez ela em se manter a parte dessas novas formações. Mutantes sem Rita Lee é mais ou menos como o Pink Floyd sem o Roger Waters mal comparando.
         A quarta canção é a que dá nome ao grupo e ao disco. É um rock chiclete. Tem uma gaitinha a percorrer a música pra deixar uma sensação de rock'n roll do underground. Assim penso que foi uma tendência da época e que até hoje é bastante imitada ou refeita.
        "Esse Tal de Roque Enrow" é a música que eu mais gosto desse CD. Parceria com o Paulo Coelho, letra simples pra um sentimento universal. Muito pai realmente sente o que é exprimido na brincadeira da letra. Só que a batida da música é que deixa a mensagem no ar. Dance, bata cabeça, se divirta.
        Um convite pra viajar está na música "O Toque". Muito gostosa de ouvir, não se fazem mais músicas assim e nem sei porquê. Tem uma parte com um andamento mais suave... "Que o universo segue o rumo que todos nós escolhemos...". O finalzinho remete aos velhos e bons rocks dos anos 50.
        "Pirataria" prossegue na mesma batida, mas é um tanto fraca em relação as demais.
        Pra finalizar o album dois petardos: primeiro "Luz Del Fuego" com o riff de guitarra do mestre Carlini logo no início. É um cartão de visitas da Rita Lee em sua nova fase. Até hoje é uma música atual. O guitarrista é muito bom. Por isso ela dá crédito à banda. Fruto Proibido foi uma banda diferenciada em sua fase "solo". Segundo petardo, "Ovelha Negra", a melhor canção do disco. Canção mesmo. Pois na minha opinião algumas músicas não podem ser consideradas canções e essa é uma canção verdadeira que eternizou o nome de Rita Lee no cancioneiro popular brasileiro. O tecladinho, a letra falando aquilo que identificou tanta rapaziada, tanta garota e finalmente o solo de guitarra no final, um dos mais belos já feitos na história da música brasileira. Para ouvir várias vezes!
       
       

sábado, 18 de dezembro de 2010

Como nasceu esse poema abaixo:

        Era meados de 1990, eu e meus amigos terminávamos o colegial e fizemos uma viagem para a cidade litorânea de Caraguatatuba. Foi uma viagem especial. Estávamos numa espécie de rito de passagem e eu específicamente não tinha mais aquele ranço de maluquice que me acompanhou por boa parte da minha adolescência. Eu só pensava nos próximos passos a dar. A faculdade a fazer. Havia uma tristeza inerente que eu tentava chutar para longe. Ficamos em uma casa alugada que não era tão grande o suficiente para abrigar a todos. Alguns dormiram na área. Outros até mesmo na lage da área. Eu e alguns amigos mais tímidos dormimos no quarto menor (na verdade não dormimos). Eis que no terceiro dia, uma turminha nossa (Márcia, Moacir, Aldo, Adriana e outros) resolveu dar uma volta pela cidade. Fui junto. A curiosidade foi que encontramos perto da praia, mas dentro da cidade, um bar muito interessante que ficava em frente a uma pequena lagoa natural. Não pensamos duas vezes e meus amigos perguntaram se poderiam nadar na lagoa. O dono do bar, sério, respondeu que sim. No ar ficou para mim que o que deveríamos fazer era simplesmente gastar algo no bar. Já que eu não estava preparado para nadar (na verdade é uma coisa que eu não aprendi) fui até o balcão e pedi uma coca (vício que me acompanha até hoje) e uma porçãozinha de prezunto e queijo (na época era hábito servirem porções) que peguei e fui sentar-me em frente a algazarra que os amigos já faziam na lagoa. Antes pedi para que ele aumentasse o volume do rádio que estava ligado. Fiquei lá observando a bagunça. Chegou aos poucos um sentimento de alegria incontida que ficou muito grande quando no rádio o locutor anunciou uma nova música de uma banda que eu gostava muito e que acabaria indo ao show deles nesse mesmo ano, a Legião Urbana. Era o hit "Há Tempos". Tomou conta de mim uma sensação indescrítivel (que não vou contradizer e tentar explicar). Pedi ao comerciante já incomodado,acho, pelo barulho de meus amigos e pelo meu silêncio uma caneta e um pedaço de papel e ali mesmo, ao sol de 37 graus mais ou menos daquela quinta feira, sentado na sombra de um pequeno quiosque rabisquei os primeiros versos que começavam assim: "O locutor anunciou a nova música... Sensação única de algazarra e coisa boa...".

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Caraguá - 90

Caraguá – 1990

Os alegres gritos não abafaram
A voz do locutor que anunciou
A nova música
Raios de sol refletiram na água da lagoa
         Sensação única
De algazarra e coisa boa
Indefinível talvez – inesquecível com certeza
Há tempos queria poder sentir aquilo de novo
A novidade de descobrir tanto num só instante
Mas beleza não é igual tristeza como disse o compositor
Amizade não se traduz num poema, tampouco num arremedo como esse...

Os amigos hoje têm suas vidas e quase não os vejo, mas sempre ficará na memória o que nenhuma máquina foi capaz de registrar.
Como esquecer as risadas, daquele Nosso Tempo Perdido?


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

INOCENTES

Um dia o cara que era dono da Flipper Dance (a melhor danceteria da região nas décadas de oitenta e noventa) ou os donos (não me lembro, sou meio desmemoriado para detalhes) quis trazer um show pra Itaí. Um show de um grupo de rock. Acho que meio pelo preço ou pelo apreço que ele tinha por esse grupo, ele decidiu (ou eles decidiram) trazer uma banda punk de Sampa. Essa banda fazia sucesso na época com uma música que gritava "pânico em SP" e se chamava Inocentes. Eu fui... E foi um dos dias mais bacanas de minha vida, pois vieram à minha casa meu primo-irmão-de-leite-e-de-sangue Evaldo com seus amigos punks (um deles tinha o singelo apelido de Chapolin) e veio gente de toda a região. Gente diferente, descolada e muito 'muderna' pro padrão provinciano de nossa cidade dos idos de 1986 (ou 87, não sei...). O show foi inesquecível por dois motivos. Primeiro eu não parei de balançar a cabeça e gritar os refrões fáceis das músicas mais conhecidas e, segundo, por um fato inusitado. No meio do show tive uma vontade de ir ao banheiro daquelas que não pude me negar e não é que no exato momento que entrei no banheiro vi um amigo (também primo distante) dando um soco no vidro da janelinha do WC! Então tive que me decidir entre socorrê-lo ou fazer de conta que não o tinha visto. Decidi por ajudá-lo, mas para não perder o resto da pancadaria musical o levei até a frente da danceteria e parei um carro pedindo ajuda. Era um taxista (coisas que só acontecem comigo). Após colocá-lo no carro e pedir para o levasse ao hospital, voltei para o show. Era o biz e estavam tocando "Pânico em SP". Só me restou gritar na frente do palco: "ÔÔoooÔÔoooo".

IngressoPresente dado por mim para eu mesmo

Acabei de receber pelo correio os ingressos para o Rock in Rio do ano que vém. Vieram numa embalagem muito legal desejando feliz natal. E foi isso mesmo, um presente que eu me dei. Talvez só eu mesmo sei o valor que esse presente tem para mim. só eu posso quantificar meu amor por esse estilo musical e saber o quanto isso tudo é importante pro que eu sou e pro que eu faço e represento. Feliz Natal a todos. E que 2011 seja um ano muito mais que 10!

Cabeça Dinossauro

No começo era o verbo. Balbuciava as silabas desconexas e nem entendia o que dizia. Aí veio a música que meu irmão ouvia. Era Raul, Zé Rodrix, Mutantes e tantos outros que eu balançava a cabeça ao ouvir e vim a sabê-los muito tempo depois. Sim, eu aprendi a gostar de Rock muito antes de falar! Quando eu falei as primeiras palavras, junto ao "mamãe" e "papai", eu acho que eu já pedia pra ouvir o Raul. Sim, eu já era um roqueirinho antes mesmo de saber andar! Na primeira infância eu ouvi os Beatles e tive minha primeira revelação: Deus existe! Deu uma prova disso ao nos tornar criativos o suficiente para amarmos o som da guitarra do Harrison e os vocais de Paul e Jonh. Sim, eu já gritava 'Help' antes mesmo de saber o que isso significava. Na adolescência, quando não sabia o que eu poderia ser na vida, resolvi que seria um roqueiro. Deixei meu cabelo crescer. Comprei uma jaqueta da Staroup e iniciei uma amizade com uns malucos. Não gostei de maconha, pois o efeito dela em mim era o contrário do que todos sentiam. Eu ficava deprimido graças a Deus. Mas continuei sendo o amigo 'careta' dos caras mais malucos de minha pequena cidade. Sim, eu fui em tudo quanto é show que pude ir dos dezesseis aos dezenove anos! Foi num show dos Titãs em Sorocaba que eu tive minha segunda grande revelação: algum rock mudou minha vida para sempre e tornou um moleque sem graça num cara feliz e interessante. Eu estava de ressaca e pude entender os versos da música que abria aquele show: "Cabeça Dinossauro... Cabeça... Cabeça... Cabeça Dinossauro".