domingo, 7 de agosto de 2011

A melodia

Existem músicos em minha cidade que querem fazer música. Eu tive uma experiência muito rica no final da década de oitenta "pertencendo" à banda Skalla Richter que tinha na guitarra solo um virtuose e no contrabaixo um cara também talentoso - Jatir e Xandão - e com eles fiz várias músicas. Eu fazia as letras e eles trabalhavam em cima. "Horizonte & Lua" que postarei a seguir é uma delas. Agora para ser sincero eu entendo os jovens de hoje. Tudo é mais difícil. Dia desses uns meninos me mostraram uma melodia e eu fiquei de fazer a letra. Saiu "Confissão" (título provisório). Acho que se eu soubesse tocar violão ou soubesse cantar tudo ficaria um pouco mais fácil... Mas o compositor do Elton John não toca nenhum instrumento (salvo engano) e cantar eu acredito que eu saiba um pouco (desafinado eu sei, mas entendo de como encaixar voz à música o suficiente para entender quando não está bom. Então passarei essa letra aos meninos e os ajudarei para ver no que vai dar.

abaixo a letra da música feita em 1989:

Horizonte & Lua

Olhando o horizonte
O sol já não se tem
Montanhas em chamas quando chamas por alguém
Há um longo infinito
Está bem longe eu bem sei
Florestas densas quando pensas em alguém

Eu grito o teu nome
Só o eco responde
O que vou fazer agora
Que você não está aqui?
Perder o medo do que me aguarda lá fora?
De tudo que ainda não vivi?
Eu vou continuar até onde puder

Olhando o Horizonte
O Sol já não se tem
Montanhas em chamas
quando chamas por alguém
Há um longo infinito
Está bem longe eu bem sei
Um deserto que te inquietas
quando se desesperas por alguém

Letra para uma música

Quero aqui ser sincero: a letra que fiz e que estou postando hoje é baseada em fatos reais e exprimem sentimentos meus (de verdade). Claro que estou há quase oito meses solteiro e meu relacionamento já é coisa do passado. O que escrevo diz respeito a sentimentos logo posteriores ao término da relação. Não estou remoendo. Estou só usando o que pensei para fazer a letra. Quando preciso de inspiração eu faço isso. Por que estou explicando? Talvez porque seja interessante fazer isso. Gosto de saber o que leva alguns autores a escrever certas letras, textos, escritos, etc. E espero que meus leitores entendam que escrever uma letra para uma música é mais ou tão difícil que escrever um poema. E por falar nisso faz tempo que não sinto necessidade de escrever um. Só escrevo poesia quando sinto isso...

Confissão

Até quando permanecerei preso?
Aos seus risos
Aos seus vícios
Eu quero poder sair ileso
Esquecer seus delírios
E os seus enguiços

Eu quero poder viver a minha vida como sempre sonhei
E se de repente para isso eu precise te esquecer
Pode crer que não pensarei duas vezes
Por mais que tudo tenha sido tão bom nesses últimos meses

Você não soube entender meu lado
E exigia que eu entendesse o seu
Você não soube confiar em mim
E no fim olha só no que deu?

A gente se pediu um tempo sabendo que isso não existe
Quando se ama de verdade na verdade isso é uma senha
O que se desenha no horizonte é que o que era pra hoje
Virou ontem, já era!
Não sou ponto de espera
Sou o que vai fazer seu próprio tempo
E quando achar que é o momento
Parto pra outra e escolho
Se for preciso
Arrisco amar de novo
Sem medo... porque:

Eu quero viver a minha vida como sempre sonhei
E se de repente eu precise para isso te esquecer
Pode crer que não pensarei duas vezes
Por mais que tudo tenha sido bom nos últimos meses


(você gostou? - Comente então...)

domingo, 26 de junho de 2011

As Melhores Coisas do Mundo - Parte I

Posterior a seis Artes (Teatro, Música, Pintura, Literatura, Escultura e Dança excetuando arquitetura e desenho deixados de lado pelos romanos e gregos) o Cinema permite sem dúvida um prazer sensorial formidável. Assistir a um bom filme equivale a ter contato com quase todas as outras artes existentes. É como estar numa imensa galeria em que você vê uma exposição, ouve a trilha sonora, absorve a fotografia, “lê” o roteiro, etc.
Como professor, tento sempre que posso utilizar da melhor forma possível essa linguagem para incrementar minhas aulas e com o tempo (após mais de dezoito anos de profissão) comprovando o fato de que um bom filme comentado e debatido vale mais do que algumas aulas. Foi com esse pensamento que nesse ano tenho escolhido os filmes a compartilhar com meus alunos sem a preocupação de necessariamente ser de geografia. O que importa é que a experiência visual permita que se possa conversar depois. E que seja troca de opiniões construtivas.
E já que o assunto do momento é o bullying resolvi escolher um filme no segundo bimestre dentro desse contexto. Logo de cara lembrei-me das resenhas que li sobre um filme nacional que estava passando nos cinemas ano passado. Consegui o filme através de um amigo antes mesmo dele ir pra locadora (se acaso for um dia) que o “baixou” na internet e primeiro deixei que minha filha o assistisse para saber se valeria a pena mesmo passar pros meus alunos de segundo e terceiro colegiais. Ela aprovou! Eu adorei também. Preparei uma conversa anterior com meus alunos e pedi a eles que escrevessem numa folha de caderno as suas dez melhores coisas do mundo.
Aproveito para falar de como o cinema nacional tem melhorado nos últimos anos. Assim de cara cito quatro exemplos de filmes que nada devem a cinematografias de outros países (inclusive os esteites):- 1- “Se Eu Fosse Você” do Daniel Filho com as magistrais interpretações de Toni Ramos (provando que não é só um bom ator de novelas) e Glória Pires. Essa comédia faz rir de verdade e refletir um pouco sobre as diferenças necessárias entre homens e mulheres. 2- “Tropa de Elite – 2” de José Padilha, com o grande ator (esse cada vez mais de cinema mesmo) Wagner Moura. Consegue ser uma continuação ainda melhor que o primeiro filme com mudança de enfoque e muita ação mereceu ter quebrado recordes como quebrou. 3- “Saneamento Básico” de Jorge Furtado, com Fernanda Torres e também Wagner Moura é uma comédia hilariante que provoca naturalmente muitas gargalhadas. Impossível não gostar, embora dessa história de um grupo de amigos e familiares muito simples que se unem para fazer curta metragem. Muito interessante até mesmo como meta-linguagem. 4- “1972” de José Emilio Rondeau, com os jovens Dandara Guerra, Rafael Rocha e Bem Gil é filme despretensioso que se pretende quase retrato de uma geração com caracterização primorosa de uma época em que nosso país ainda vivia sob a ditadura militar. É filme divertido que vai bem numa tarde com amigos, pipoca e coca-cola...
Esses exemplos servem apenas para que tenhamos a certeza de que nosso cinema já tem uma cara, um estilo e certo apuro técnico que realmente não tinha no passado. Bem, depois desse parêntese quero falar de meu projeto com meus alunos. Passei o filme novíssimo da diretora de “Bicho de Sete Cabeças” Laís Bodanski, “As Melhores Coisas do Mundo” com os adolescentes estreantes Francisco Miguez e Gabriela Rocha (Mano e Carol) e participações de Denise Fraga, Fiuk e um surpreendente Paulo Vilhena, com ótimo roteiro que mostra muito bem os anseios e as esperanças de jovens da classe média brasileira trata principalmente de diversos tipos de bulying (essa palavra que infelizmente não encontra tradução adequada ainda para o português) e tem na paixão platônica de um casal de amigos apaixonantes um pano de fundo para um momento de diversão que só a sétima arte possibilita.
Vi meus alunos assistindo num silêncio delicioso. Rindo muito e também se emocionando na excelente sala de vídeo (com datashow, cortinas pretas e cadeiras almofadadas) da escola “Abílio”. As ‘uma hora e quarenta minutos’ das quatro sessões do filme passaram rapidamente e ao final vi sorrisos de satisfação quando o Mano consegue tirar uma das músicas mais bonitas de todos os tempos, “Something” dos Beatles. O impacto visual, a percepção de que a música escolhida pelo adolescente para impressionar a colega de classe era realmente linda, as atitudes do jovem (irmão do Mano) com sua decepção amorosa e o relacionamento conturbado e conflituoso dos adultos foram assimilados de uma forma bem bacana. Permitiu troca de opiniões e deu até a possibilidade de discutirmos sobre a relação professor e aluno. Enfim, deu resultado aquém do esperado.
Sair do lugar comum, fazer da sala de aula um espaço de reflexão e troca de experiências, afinal não é esse um objetivo dos novos parâmetros curriculares?
Entre as dez melhores coisas do mundo está a amizade, a boa conversa, a música, ler um bom livro, os risos dos meus filhos, namorar, um almoço delicioso de domingo com toda a família, uma viagem para um lugar até então desconhecido e porque não assistir a um bom filme e poder comentá-lo depois. É isso que me proponho sempre. Tornar a vida mais fácil de ser vivida é procurar pelas coisas que mais gostamos. Sempre...
http://virou.gr/iEFVzT
Marco Antônio*
@Prof_Marcoant_
...E para você, quais são as melhores coisas do mundo?

A Invenção do Beijo

Numa época terciária e cenozóica a mulher de Neanderthal (sim, não existia só o homem de Neanderthal!), esfomeada... Insatisfeita... Infeliz através de grunhidos lamuriou-se com seu parceiro, que um tanto de forma atabalhoada decidiu sair à caça. Embrenhando-se na floresta deu de cara com um mamute de tamanho médio e com uma estaca em sua mão enfrentou-o. Com algum custo venceu o animal soltando ao fim da luta um berro primata e primário de algo parecido com alegria.
Carregou com certa sofreguidão em seu ombro arcado, o pesado animal até a lagoa onde se banhou e lavou a carcaça do futuro alimento... Foi por impulso que puxou com força a cabeça até arrancá-la do corpo do bicho... Ao ver frutos silvestres devorou-os e prosseguiu quebrando com violência os membros do mamute... O tempo era todo dele, não existia pressa, não existia calma. Não existia sentimento. Nem sei se existia algum raciocínio... Existia era fome e a mulher tinha muita fome. O homem também, mas primitivamente a fome da mulher que permaneceu repousando na caverna era mais importante, de uma importância estranha que ele mal entendia.
A carne do mamute foi o alimento de várias luas, de vários e imprecisos instantes. Os dois comiam lado a lado e ao cair da escuridão, deitados também lado a lado acabavam em dias frios esquentando um ao outro. Havia algo, entretanto... E nenhum dos dois compreendia.
E aconteceu que a carne do mamute estava chegando ao fim sobrando apenas um naco... E o naco tinha uma aparência muito boa... Estava dando sopa sobre a pedra polida no fundo da caverna. Os dois sem entenderem nada ficaram esperando por um sinal qualquer... A mulher já naquele remoto tempo era mais criativa, possuía mais iniciativa e não perdeu a oportunidade que se apresentou... Pegou com rapidez o pedaço de carne e o colocou na boca iniciando a mastigação. Instintivamente, eis que o que se deu foi inesperado, inusitado e incrível: o homem agarrou a cabeça da mulher com quase a mesma força com que arrancou a do mamute luas antes e foi em busca do naco de carne com sua boca na da mulher. Como a carne se encontrava já bem mastigada, ele enfiou a língua e tentou resgatar a carne na boca da mulher. As duas línguas se enlaçaram e se enfrentaram. Ele conseguiu pegar alguns pedacinhos que procurou carregar consigo em sua língua. Ao se desvencilhar ele sentiu comichão estranho que não sabia o que era. A mulher, mais esperta como sempre, entendeu tudo e quis repetir devolvendo a ele com sua boca e língua alguns outros pedacinhos de carne.
E então aquilo se transformou em uma prática diária. O homem passou a caçar ainda com mais disposição e adquiriram o hábito de trocarem comida pela boca e ao dormirem a noite os corpos já não precisavam do frio para permanecer agarrados. Ninguém ainda sabia, mas estava inventado o beijo... E por tabela, o apetite.

sábado, 11 de junho de 2011

Especial para o Dia dos Namorados

Uma crônica e só

Aquele tempo passou.
Não há mais o que lembrar.
Vestígios? Nem isso...
Minhas palavras querem chegar a um ponto e não chegam.
Meu medo é o de sempre: ser compreendido o suficiente.
Para que escrevo?
Não sei... Sinceramente não sei.
Havia um tempo em que eu sabia. Mas como escrevi, aquele tempo já passou.
O que escrevemos nasce da necessidade que temos de entendermos a nós mesmos?
Veremos!

Décio retornou.
No aeroporto encontrou toda sua família. Faltava alguém.
Olhou para os lados, disfarçou o que pôde até perguntar para todos ao mesmo tempo:
- e Fernanda?
O pai tossiu nervoso. A mãe sorriu “amarelo” e finalmente após uns segundos de silêncio imenso a irmã sentenciou:
- ela não veio.
Nada mais foi dito a respeito, pois o irmãozinho mais novo quis saber como era a Itália. Se ele assistiu a algum jogo do time do Ronaldo Fenômeno.
Entraram no carro os cinco. Ele relaxou um pouco pensando que não haveria um lugar para Fernanda no carro mesmo. Angustiou-se, mas se conteve e no caminho apenas limitou-se a contar como são belas as cidades italianas e como foi o único jogo que viu em Roma, sem Ronaldinho que estava contundido.
Chegaram a casa. Pintura nova. Tapete vermelho e uma faixa felicitando o filho vitorioso.
As últimas cartas que mandara não foram respondidas. Não devia ser extravio como imaginara.
Ficou um pouco na sala sem saber o que fazer. A mãe foi para a cozinha preparar um café. O pai foi buscar uns amigos para um churrasco de boas vindas.
Ao irmãozinho aproveitou pra dar alguns presentes. Quase no intimo de seu ser pensou em tudo como algo passageiro.
Que não deveria ter voltado. Que seus estudos foram inúteis e tentando lutar contra aqueles pensamentos chamou a irmã.
Iria perguntar, mas se conteve.
O semblante dela foi o suficiente.
Mais para cortar o silêncio do que por qualquer outro motivo, ela disse:
- Espero que goste da mobília nova do seu quarto. Fui eu que escolhi.
Silêncio.
Décio estava feliz por ter retornado, mas não queria ter motivos para voltar novamente.
Subiu para o velho quarto de solteiro.
Abriu a mala menor.
Da parte lateral, retirou uma caixinha azul, de luxo.
Abriu e chorou.
O brilho do anel que daria para Fernanda como sinal de noivado foi ofuscado por suas lágrimas.
Aquele tempo...
Aquele tempo passou.

domingo, 22 de maio de 2011

Ainda o Tempo...

Sim. Os melhores sentimentos gritam por indefinições.
Clamam pelo extasiante silêncio. Pelo mudo embasbacar-se.
Sim. A explosão de alegria dispensa comentários.
Guarda recônditas confusões na busca de prolongar-se.

Não. Nada é definitivo. O fato de estarmos vivos.
Muito vivos! Não serve de sobreaviso para futuros erros.
Não. Perfeição é coisa de tolo. Sabemos segurar o choro.
Trocar possíveis sensações frustradas por desideratos terrenos.

E então no inicio da noite nos deliciaremos
Com o som dos nossos copos quase cheios.
E perderemos qualquer receio de não sermos nós mesmos.
Para depois, afinal, desistirmos de contar as estrelas,
De ouvir os sons noturnos. Sobrando os costumeiros sorrisos
E o barulho silencioso de fim de festa.

Sim. Os melhores sentimentos são inexplicáveis.
Não. Nada, nada mesmo, se torna com o tempo, definitivo!

Soneto de solidão

Estou só... e conto as lágrimas
De uma legião de anjos solidários
Festejo... sentimentos raros
Um não sei quê... sem palavras.


Estou só... e perco meu tempo
Desperdiço momentos esparsos
Comemoro ferimentos e estragos
De um breve e útil contratempo.


Necessário se faz o que desfaço
Esse imenso e caótico vazio
Que me confere à vida e ao espaço.


Uma sensação de talento e frio
Pois só, sei bem o que faço.
E sou capaz de ser vário, em mil!

Novos poemas

Et e o vídeo teipe

O mundo é a única coisa que importa
E, no entanto pensamos em Marte
Imaginamos marcianas e nos masturbamos...

Idealizamos bebês diferentes chorando
Um choro estrangeiro
E distantes da realidade nos unimos
Sonhando juntos
Um sonho impossível:

Uma ponte
A lua
Nós caminhando
Lado a lado
Vestidos a rigor
Lembrando Neil Armstrong.











Pré – conceitos




Antes da chuva – o calo dói
Antes do bom-dia – vem o olhar
Antes do grito – vem a aflição
Antes do gosto – vem a afeição
Antes do gemido – vem o sussurro
Antes do medo – vem a pergunta
Antes do rosto – vem o retrato
Antes da jura – vem o pecado

domingo, 15 de maio de 2011

Ser Corintiano

Ser Corinthiano é sofrer...
Na vitória sofrida. Na derrota indevida.
É torcer...
Gritar com o gol... Sofrido...
Gritar um gol perdido...
Gritar!
Ser corintiano é amar
E armar o churrasco antes do jogo
Ficar com a cabeça inchada
E esperar por outro campeonato
Ser corintiano é aguentar calado
O fato de não ter Estádio
Temos a praça.
Temos a rua.
Temos o Pacaembu
Uma enorme casa emprestada e quase tomada por usucapião...

Para quem é corintiano
Ser vice não vale nada.
Não serve de consolação...
Eis um sentimento cru
Difícil de explicar...

Nunca duvide da paixão de um corintiano.
O corintiano ama de forma tão prazerosa o seu time
Que considera um crime quem o ama só um pouco
Torcer pro Corinthians é se autodenominar um louco
É ter o prazer de pertencer a um bando
É transformar gritos em cânticos...
E cânticos em um barulho ensurdecedor

Ser corintiano é aprender na marra que perder
Pode ser até bom desde que seja com garra
E por quem mereça sair vencedor!

Nasci com essa virtude e defeito
Dentre todas que poderia ter
Não me vejo de outro jeito
E só me resta admitir: sofrer faz parte
É algo que a gente assimila e transforma em arte
Como o bom futebol – como um jogo bonito
Então me rendo e aprendo na boa
Sei que todo torcedor defende seu peixe
E tem quem vá até rir de minhas fracas rimas
Mas quando eu vejo o emblema, os símbolos
Sinto que essa paixão está acima de qualquer rito
De qualquer sentimento à toa.
É o que faz sentido por si só

E não se fala mais nisso...

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Poema concreto

Paralelepípedo

Da
Nostalgia
Fez
-
se
medo
de
que
talvez
tudo
acabasse
como
começou.

Da alegria
Fez
-
se
enredo
de
que
talvez
um
dia
se possa
entender
o que
passou.

O início já era...

Estamos no meio.

Você pode entender?!!??

Quando o momento pediu
A chance que você não me deu
Da boca a palavra não saiu
E o silêncio significou adeus

Você pode querer que eu modifique
Meu modo de pensar e que fique
Do jeito que você precisa
Mas o bom senso avisa
Que nada é do jeito que a gente quer
Nem da forma que o bom senso pede!
Todo mundo cheira, todo mundo fede...

Você pode dizer que o que eu falo
Está escrito nos livros que leio
Que o que declaro não sinto
Que o meu astral é baixo demais
E que o que eu faço não te satisfaz
E que eu minto e não te deixo em paz

Eu não to nem aí
O que eu queria
Ah, o que eu queria
Eu já consegui...

Fotos

http://photography.nationalgeographic.com/photography/photos/best-pod-january-09/

domingo, 8 de maio de 2011

Sobre o pequeno ensaio

É o texto de abertura da minha participação na coletânea que eu e o Antonio Rodrigues Loureiro (Toninho) organizamos em Itaí. A "Antologia Literária Itaiense". Resolvi publicar aqui por dois motivos. Ele serve também pra explicar o que me leva a escrever e ao mesmo tempo introduzirá alguns outros textos que abordarão minha juventude, adolescência...
Não sei ainda onde chegarei com o que escrevo. O objetivo principal é a publicação de um livro. Não tenho a menor pressa. O que quero é continuar sentindo o mesmo prazer que senti quando escrevi meus primeiros poemas e minhas primeiras letras de música. Algumas musicadas por meu amigo Jatir serão postadas mais a frente...

Pequeno ensaio sobre a simplicidade

A primeira vez que resolvi escrever um texto foi de repente. Passava na televisão um documentário sobre o jogador Garrincha, e apaixonado pelo futebol senti a inusitada necessidade de escrever algo. Escrevi um poeminha onde repetia o apelido dado ao atleta por Armando Nogueira, “pássaro de pernas tortas” e dizia que ao jogar tentava imitá-lo. Era uma mentira porque até então eu não o conhecia, mas havia esse sentimento de melancolia por não conhecê-lo e pela vida dele ter sido tão difícil quanto sua genialidade. Ah, e eu estava por me mudar de cidade (de Avaré para Itaí) e isso estava me torturando. Expressar essa melancolia foi talvez o que tenha me levado a escrever.
Escrever é libertação. Desde então quando não entendia tanto o que eu sentia me debruçava sobre uma folha de caderno e escrevia. Depois ao ler acabava me entendendo melhor. A poesia é algo que muitas vezes vem sem muita explicação. Para mim serve para representar de forma instantânea o que eu sinto em determinado momento. Registro o que sinto e isto ajuda a entender o que penso e o que faço. Hoje lendo a maioria de meus primeiros poemas vejo o quanto era ingênuo e finalmente consigo perceber a importância de meu amadurecimento. E para quem lê? Qual a importância dos meus sentimentos para quem apenas lê?
A primeira vez que ouvi a música “Há Tempos” da Legião Urbana foi inesquecível. Eu me encontrava em excursão com minha turma de escola na cidade litorânea de Caraguatatuba e enquanto eles brincavam num lago em frente a um barzinho eu os observava ouvindo o que tocava na rádio do local. O locutor anunciou a nova música de minha banda preferida da época – 1990 – e logo nos primeiros toques, nos primeiros versos aquela música me passou uma alegria que explicava tudo o que eu sentia naquele momento. Talvez eu esteja tentando ser entendido de uma forma um tanto difícil. As letras de Renato Russo foram escritas em cima de tudo o que ele sentia e entendia. A gente ouve, lê e também sente e entende. Assim é com a poesia que escrevemos em torno do que sentimos e entendemos que outros lerão, sentirão e entenderão.
Posso parecer presunçoso, mas, proponho uma troca de informações: ao escrever o que sinto e o que penso pretendo ser lido para que você na sua solidão tenha o mesmo estalo, a mesma descoberta e a mesma sensação que tive ao ouvir a canção da Legião. Lá naquele dia de sol enquanto os gritos de alegria de meus amigos ecoavam, eu ouvia os versos que dizem até hoje coisas tão verdadeiras e que embora estejam numa letra de uma música não deixam de ser poesia. Um de meus poemas presentes nesse livro foi feito naquele dia e até hoje ao lê-lo tenho a incrível sensação de alegria sentida naquele momento.
A literatura é isso: intensa troca de informações pessoais e os pensamentos que externamos através dela nos faz incrivelmente mais fortes. Quem lê com certeza está quase sempre tendo a chance de comparar o que vive com o que é vivido por quem escreve ou pelos personagens criados pelos escritores. Então peço atenção ao que escrevo e se possível se me encontrar na rua e quiser conversar a respeito, esteja à vontade amigo leitor. Sou eu por inteiro fazendo algo de que não consigo me desvencilhar. A literatura para esse ser aqui é tão forte quanto à disposição que sinto em querer que o meu futuro seja o melhor possível.

sábado, 7 de maio de 2011

Outdoor

É melhor
Não fazer errado
Para não querer repetir.
É melhor
Ouvir tudo de novo
Para não querer ensinar.
É melhor
Não perceber os detalhes
Para não querer recriar.

É pior
Saber profundamente
E não poder discutir.
É pior
Acreditar piamente
E não conseguir refletir.
É pior
Entender quase tudo
E não poder usar.

E além do que
Quem não se arrepende
De dizer verdades??

Conto

Uma noite comum num dia qualquer


E vem de novo meio cambaleando. Será que ele só me quer quando está bêbado? Fiz que não ouvi... Então ouço seu andar encumpridado.
Quer ficar comigo?
Assim na lata fica difícil. Já não tô muito querendo e ele vem sem romantismo, tá pensando o que?
E aí... Não vai responder?
Ah meu saquinho. Ta bom, já que você tá procurando, que seja:
Você vive bêbado e quer ficar assim sem nem mesmo se curar antes. Dá um tempo ô... O que você tá pensando? Eu não sou uma qualquer
Falei olhando para um cachorro na esquina. Saiu tudo de uma vez, o cachorro acordou, me deu uma boa olhada e fechou os olhos novamente.
Aí o Du fez uma coisa que eu não esperava: deu pinote, saiu de banda.
E fiquei assim sem eira nem beira.
Pensei em voltar atrás. Mas e o medo dele me dispensar de vez. Abaixei a cabeça e quase pisei na merda do cachorro, desviei sem olhar pra trás – morrendo de vontade de olhar – cheguei em casa... E não consegui dormir.
Fiquei pensando em seus beijos com gosto de cerveja. Em seus abraços suados. Em seu perfume barato.
E no quanto nos ensina a vida nas noites mal dormidas!

* * *

Olha lá, rapaz a Luana indo embora sozinha de novo. Ah, não vou resistir...
Mas cara, a gente acabou de levar aquelas duas embora e...
Larga mão! Ela já ficou comigo duas vezes desse mesmo jeito.
Então corra, cara. Eu vou embora...
Falou.
O que é que tá havendo. Ela fez que não me viu.
Aumento o passo então...
Quer ficar cumigo?
O que está acontecendo? Ela agora não fala nada. Apenas está com cara de brava. Será que ela sabe da Lurdinha.
E aí, não vai responder?
Aí ela fez uma coisa que eu não esperava: me esculhambou!
... O que você tá pensando, eu não sou uma qualquer.
O que me restou foi dar a volta com a consciência pesada de quem pisou na bola. Quase tropecei em um cão que dormia na calçada.
A Luana merece mais respeito.
Essa de tratar ela como resto não tá com nada.
Bom, tomei uma decisão: a partir de amanhã vou fingir que nem a conheço.
Cheguei em casa... Dormi sonhando com a Lurdinha...

* * *

Estávamos nós dois na madrugada voltando da noite, quando vi a Luana virando a esquina. Com aquele reboladinho lindo. Meu Deus, se eu tivesse coragem, juro que teria ido atrás dela!
Ah, não! O Duzão também a viu.
Olha lá rapaz a Luana indo embora sozinha de novo. Ah, não vou resistir...
Tentei dissuadí-lo:
Mas, cara, a gente acabou de levar aquelas duas embora e...
Larga mão! Ela já ficou cumigo duas vezes desse mesmo jeito.
Decidi apoiá-lo só para ver se ele desistia, pois ele sempre gostou de ser do contra:
Então corra, cara, eu vou embora.
Falou.
E ele foi. Ele não deixou de ir... Foi...
E eu fiquei perdido.
Sempre gostei da Luana. Nunca tive coragem de chegar. E o Duzão com o seu jeitão grosseiro fica com ela a hora que quer.
Fui embora. Em casa tomei um sal de frutas e fui dormir. Liguei o rádio. Fiquei pensando na Luana e sem querer imaginei o Duzão a beijando.
O pior é que sei que a coisa não vai ficar só nos beijos. O pior é que ele vai passar a mão nela... Está com umas a mais na cabeça mesmo... E vai que é isso o que ela quer, ficando com ele a essas horas.
Mas não quero imaginá-la como uma qualquer.
É ele que é um babaca. Amanhã, nem vai olhar pra ela. E isso é o que é pior. Tentei pensar em outra coisa... Na Jussara...
Mas não consegui!
De repente me veio que poderia ter chegado antes do Duzão.
Poderia ter sido mais corajoso.
Assim quem sabe eu estaria no lugar dele. Só que tenho que esquecer... Eu vou esquecer... Decidi: a partir de amanhã nem olharei mais para ela...
Na janela, os primeiros raios de sol anunciaram um novo dia. Um novo domingo. Foi só mais uma noite perdida em meio a mais uma vida qualquer...

“Nirvana”.

Poesia

Poeminha de amor nº 1




Preciso fechar os olhos para ver
Os seus

Silenciar-me em toda parte que eu for

Cantar junto “Quase Sem Querer”

Voltar a acreditar em Deus
E pedir a Ele sorte no amor

Sim – preciso me amar mais!
Olhar no espelho o meu rosto
E me certificar de que estou aqui

Porque por mais que eu tente
Que eu cante
Escreva ou invente
Não consigo traduzir o que sinto
Quando vejo o seu olhar...

Nem quero!
Pois o encanto, só o encanto torna visível.
O que não se pode explicar...

domingo, 1 de maio de 2011

Tempestade

Éramos três. Eu, Tonico e Raul, enfrentando a chuva naqueles dias de janeiro. Éramos fortes, persistentes, espertos e ríamos muito de tudo aquilo.
A água pesada e avassaladora aos poucos destruía nossas fortalezas. Contrariando qualquer lógica aquilo era gosto. Irmanados por um sentimento inexplicável de prazer, continuávamos construindo as barragens que seguravam as águas até certo ponto.
Nunca esqueci de um tombo do Tonico, muito menos do que se seguiu. Raul que se encontrava agachado, juntando terra, imediatamente se levantou e correu para ajudá-lo.
Ver Raul dando a mão a Tonico assumiu para mim uma dimensão épica. Descobri naquele momento o sentido da tal solidariedade. Até então havia uma certa competição entre nós. Não queríamos nem saber um do outro. O outro era o outro. Ali de repente nos transformamos em três amigos de verdade.
Corri reerguer a barragem do Raul. E Tonico mostrava aos berros o joelho esfolado. O barulho do temporal não nos deixou ouvi-lo.
O fim da chuva quase sempre era de um silêncio triste. Às vezes coincidia com o anoitecer. Exaustos, voltávamos para nossas casas. Lembro-me do banho demorado; quase sempre era acabar o banho e me deitar; dormia o sono dos justos. Muitas vezes nem jantava.
Aos doze anos, fazer açudinho na calçada da rua de casa quando chovia era nossa pequena aventura e hoje quando olho para esse passado, bate aquele sentimento inexplicável de saudade.
Essa palavra faz-me lembrar de Tonico.
Ele agora é frentista de um posto de gasolina aqui da cidade. Vez em quando o vejo andando rápido, cabeça para o alto. Andar firme de pai-de-família. Com responsabilidade de erguer e reerguer muitas barragens. De vencer obstáculos e continuar sempre se levantando a cada tombo.
E Raul?
Dia desses o vi. Está formado doutor. Um advogado criminal que com certeza, é capaz de dar a mão quando necessário.
Assim é a vida. Alguns momentos nos marcam mais que outros. Seja por um gesto, seja pelo sentimento que ficou ou mesmo por algo que não tem explicação.
Esse tempo. Esse dezembro. Essa brincadeira que inventamos por não sobrar muito que fazer nos dias de chuva levou-me a escrever e ver de outra forma essa chuva que cai agora lá fora. Os gritos que só eu ouço. A saudade que só eu sinto.













“ Stand by Me”. (John Lennon)

Uma música que fiz já há algum tempo

Ilusão de Óptica

Não tenho paciência de tentar entender
As coisas que você não diz
E para tentar ser feliz
Já disseram que a ciência não explica isso
Da gente não ter resposta nunca
Mas é preciso viver
um dia de cada vez

Estamos atrás do que é simples
Estamos atrás do que é simples


Tentando conhecer o mundo
O mundo. O mundo inteiro
Tentando conhecer o mundo
O mundo. O mundo inteiro


Eu queria ficar junto o tempo todo
Mas acho que isso estragaria o prazer
De sempre nos surpreendermos
Com o que pensamos em dizer e fazer
Um com o outro

Não existe felicidade
Pra quem acredita existir
A vida é boa, a vida é bela
É o que a gente fizer dela
O que a gente quiser dela
Existem momentos melhores
Em que é possível sorrir
A vida é boa, a vida é bela
É o que você fizer dela
O que você quiser dela!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ô Crianças... Isso É Só O Fim... Só O Fim...

Tudo porque toda noite prometia...

A noite prometia e ele começou a se arrumar logo após “Os Trapalhões”. Algumas risadas já não tão fáceis como antes, pois, Zacarias, Muçum, Dedé e Didi já começavam a perder aquela manha que fizeram deles humoristas populares no Brasil todo e então um banho demorado. Perfume, uma penteada na cabeleira e a roupa que ele comprou na semana. Jantar ele já tinha jantado. Tomou um café preto e escovou os dentes com capricho, não se esquecendo do gargarejo depois. Encontrou os amigos na esquina e com eles partiu pra noite porque naquele tempo a noite sempre prometia.
Pararam no centro e foram ao Salloon Country Bar para as primeiras da noite. Tomaram umas cervas e ele ficou pensando porque afinal de contas caprichava tanto no hálito se logo depois teria que comprar um chiclete hortelã para disfarçar o gosto da bebida. Conversou aos berros, a música tocava alto, Titãs, Engenheiros, Ultraje e Legião se alternavam no aparelho de som do Ari. Combinaram de dar uma volta, ele sugeriu um oito. Saíram dali, viraram e passaram em frente ao bar do Ambrósio e depois atrás da igreja e passaram em frente ao bar da dona Luíza e fizeram a volta passando novamente pela rua em frente à pensão do seu Sarto para subir o quarteirão da Flipper Dance.
A noite prometia. Carros de outras cidades da região já faziam suas voltas de reconhecimento e ele e seus três chegados resolveram parar na esquina da casa da família Borba. Conversaram uns assuntos meio furados, como por exemplo, o que fariam se tivessem mais grana. As meninas, as garotas, as mulheres da cidade começavam a passar por eles e aquela era uma noite normal de domingo.
Dez da noite resolveram entrar na Flipper Dance. Passaram pela cortina vermelha e se aproximaram do centro do salão. Havia uns garotos dançando passinho e eles ficaram observando. Os quatro não eram de dançar, mas de observarem movimentando um pouco seus corpos. Cumprimentaram uns caras conhecidos e ouviram uns gritos do discotecário (hoje conhecido como DJ) era o Netinho nessa época, posto já ocupado pelo célebre Salada. Eram tempos de Alternativa FM, a primeira rádio pirata de Itaí. Netinho comunicou um novo hit, um som do guns chamado “Sweet child o‘mine” e muitos que estavam fora entraram e ninguém ficou parado. Ele também se viu levado a balançar o corpo pra valer, batendo cabeça com os olhos fechados e a sensação que ele teve foi indescritível. Anos depois essa sensação sempre lhe vem à mente quando tem que responder alguma coisa a respeito do que é a felicidade.
O toque de guitarra de Slash virou anos depois o seu toque de celular. E aquela noite prometia muito mais do que algumas horas de som e fúria porque por acaso um de seus amigos pediu pra que ele fosse buscar um hi fi e justamente quando ele estava chegando próximo ao bar foi que ele viu aquela gatinha que ele sempre observava de longe na escola. Nunca a tinha visto na Flipper e de fato aquela era a primeira vez em que ela tinha ido. Estava visivelmente encantada e ele encantado pela presença dela. Era hora das lentas e ao som de “Still Loving You” dos Scorpions ela ficou parada junto a uma amiga olhando para sua direção...
Ô crianças, isso é só o fim... Isso é só o fim...

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Destino



         Ele pegou o ‘seven boy’ e passou requeijão (bastante, porque uma vez aberto, o vidro precisa ser consumido em oito dias) colocou uma colher de chá de ‘cappuccino’ e meia de açúcar num copo com água quente. Mexeu. Mordeu o pão e sorveu com prazer o café.
        
         Ela acordou assustada. Sonhou novamente com seu ex. Era um pesadelo. Foi ao banheiro, percebeu que sua dor de cabeça do dia anterior ainda persistia. Lavou o rosto. Escovou os dentes. Todos já haviam saído para trabalhar. Na cozinha tomou um leite com ‘nescau’ e decidiu adiar a arrumação da casa para mais tarde. Deitou-se no sofá e com o controle remoto zapeou a tv de 42 polegadas recém comprada pelo pai.

         Ele acabou o café e pegou o telefone.

         Ela ouviu o telefone tocando e pensou: “a essa hora só pode ser o chato do Paulo. Não vou atender”.

         Ele esperou dez chamadas e desistiu.
         Ligou novamente uns dois minutos depois. Contou até quinze e desistiu novamente.

         Ela levantou do sofá e constatou no celular que a ligação era de um número que não batia com os dos telefones do Paulo. O telefone tocou novamente. O mesmo número. Ela havia ido ao banheiro e ao ouvi-lo por pura preguiça, não atendeu.

         Ele então foi até a garagem e pegou a bicicleta que quase nunca usava. Na carteira pegou o papelzinho com o endereço. Refletiu um instante sobre o melhor trajeto. Saiu pela calçada sem pressa. Sua bicicleta era uma ‘montain bike’ das velhas. A correia estava estralando, porém ele não tinha muita pressa de chegar.

         Não tinha nada que prestasse na tv e ela decidiu ir dormir novamente. Jogou-se na cama. Tirou o sutiã e a calça. Ficou só de calcinha e camiseta. A dor de cabeça em seguida melhorou um pouco.

         Vinte e dois minutos depois. Uns quarenta e cinco quarteirões de distancia percorridos sem muito esforço, lá estava ele chegando no endereço do papelzinho. Parou a bicicleta em frente ao portão de ferro. Olhou a casa imponente, tirou de um bolso o papelzinho e do outro uma carteira de mulher. Abriu-a e pegou os trinta e três reais que estavam dentro. Guardou o dinheiro no bolso e gritou o nome que estava escrito no papelzinho.

         Vanusa estava tentando se lembrar de seu primeiro namorado. Era uma maneira de passar o tempo.
         Lembrou e com os olhos fechados tentava se livrar da claridade do dia e reencontrar o sono. Estava quase dormindo quando ouviu seu nome sendo gritado. Era voz de homem e não era a do Paulo.

         Ele pensou o quanto era estúpido. Se o telefone tocou e ninguém atendeu podia ser que por algum motivo ela não estivesse em casa. Fez então aquilo a que se propôs. Jogou a carteira o mais próximo que pôde da porta.

         Ao abrir a porta ela viu pelas frestas do portão um rapaz na bicicleta e ao mesmo tempo algo cair a sua frente.
         Era a carteira que julgava estar no bolso da saia que usara na noite anterior. Sem pensar gritou:

         - Hein!

         “E agora. Aquela moça bonita apareceu. Vai ver, é a dona da carteira. A tal da Vanusa”.

         Ela primeiro abaixou e pegou a carteira e depois foi em sua direção.

         “Ele é bonito, sarado. Não tem cara de malandro. A bicicleta é velha, mas seu tênis é um ‘Mizuno’ novo”.

         Ele decidiu dizer algo:

         - Ontem no clube vi a carteira no chão e por coincidência uma “mina” conhecia você da foto da identidade. É sua né? Aí ela escreveu teu nome e endereço e eu vim...

         Ela notou que ele tinha aparelho nos dentes.

         Ele notou que ela estava sem sutiã e que seus seios eram sensacionais.

         Ela percebeu seu olhar e se deu conta de que havia se esquecido de pôr o sutiã; sentiu vergonha, mas se recompôs, perguntando:

         - Você veio me entregar a carteira?

         - Primeiro eu liguei... A garota sabia seu telefone também, só que...

         Ele olhou para as pernas de Vanusa e sentiu uma coisa estranha.

         - Só que ninguém atendeu.

         - Ah...

         Ela sentiu algo forte no olhar dele e percebeu que seus olhos eram verdes.

         Dando uma risadinha ela respondeu:
         - Eu não atendi porque achei que era meu ex-namorado.

         “Que bom, ela não tem um namorado”.

         - Meu nome é Luis... O seu eu já sei... É Vanusa, não é?

         Olhou para os olhos dela e um sorriso surgiu em sua boca.

         - Bom... o que eu tinha de fazer, eu fiz... Thiau.

         - Você tem meu telefone, me liga tá...

         O que ele ouviu era tão bom que não quis estragar. Saiu e quando estava no outro quarteirão olhou para trás e a viu acenando.

         Ela virou as costas e ele parou, dando meia volta.

         Ela pôs a mão na boca como se quisesse pegar suas palavras de volta. Quando ele virou, sem querer se viu acenando.
         Não acreditava no que havia feito. Deu bola daquele jeito para um desconhecido. Entrou na casa ainda sob um estranho efeito de entorpecência. Deitou no sofá com os olhos para o teto; pensamentos obscenos lhe vieram à cabeça.

         Ele parou novamente em frente ao portão. Tirou o dinheiro do bolso e chamou-a novamente.

         Ao ouvi-lo chamando ela foi até o espelho, penteou seus cabelos, colocou rapidamente o sutiã e correu até a porta.

         Dessa vez, ele deixou a bicicleta na calçada. Abriu o portão e foi até a porta. Assim que ela apareceu sem falar nada ele lhe entregou o dinheiro.

         Ela pegou o dinheiro e entendeu tudo.

         Ele virou as costas e se foi.

         Ela fechou a porta e os olhos.

         E os dois nunca mais se viram.



        
 “The Firm”

1 p/ 13:00 h
...vou chegar atrasado.

Adeus tempo ingrato
Aposentei o relógio!

Deus do céu
O que será de mim?

Já não olho o espelho
Por mais de 2 minutos.

Já não penso nela.
Ih!... Pensei!!!

Um selo – preciso de um selo
Vou enviar uma carta.

“o meu amor segue anexo.”

Engraçadinho


Deixei minha rebeldia de lado
Ei! Ouviu? Deixei a rebeldia
Com ple ta men te de lado
E fui dormir pelado...

Esqueci de fazer a barba
Mudei por completo o penteado
E ao te ver, já nem fico suado
Nem procuro sentir raiva.

Apenas sento ao seu lado no ônibus
De vez em quando suspiro:
Mmmfffffmmmmmmfffff

E durmo, sem falar um á
Você então finge que dorme
Para eu não acordar...