domingo, 7 de agosto de 2011

A melodia

Existem músicos em minha cidade que querem fazer música. Eu tive uma experiência muito rica no final da década de oitenta "pertencendo" à banda Skalla Richter que tinha na guitarra solo um virtuose e no contrabaixo um cara também talentoso - Jatir e Xandão - e com eles fiz várias músicas. Eu fazia as letras e eles trabalhavam em cima. "Horizonte & Lua" que postarei a seguir é uma delas. Agora para ser sincero eu entendo os jovens de hoje. Tudo é mais difícil. Dia desses uns meninos me mostraram uma melodia e eu fiquei de fazer a letra. Saiu "Confissão" (título provisório). Acho que se eu soubesse tocar violão ou soubesse cantar tudo ficaria um pouco mais fácil... Mas o compositor do Elton John não toca nenhum instrumento (salvo engano) e cantar eu acredito que eu saiba um pouco (desafinado eu sei, mas entendo de como encaixar voz à música o suficiente para entender quando não está bom. Então passarei essa letra aos meninos e os ajudarei para ver no que vai dar.

abaixo a letra da música feita em 1989:

Horizonte & Lua

Olhando o horizonte
O sol já não se tem
Montanhas em chamas quando chamas por alguém
Há um longo infinito
Está bem longe eu bem sei
Florestas densas quando pensas em alguém

Eu grito o teu nome
Só o eco responde
O que vou fazer agora
Que você não está aqui?
Perder o medo do que me aguarda lá fora?
De tudo que ainda não vivi?
Eu vou continuar até onde puder

Olhando o Horizonte
O Sol já não se tem
Montanhas em chamas
quando chamas por alguém
Há um longo infinito
Está bem longe eu bem sei
Um deserto que te inquietas
quando se desesperas por alguém

Letra para uma música

Quero aqui ser sincero: a letra que fiz e que estou postando hoje é baseada em fatos reais e exprimem sentimentos meus (de verdade). Claro que estou há quase oito meses solteiro e meu relacionamento já é coisa do passado. O que escrevo diz respeito a sentimentos logo posteriores ao término da relação. Não estou remoendo. Estou só usando o que pensei para fazer a letra. Quando preciso de inspiração eu faço isso. Por que estou explicando? Talvez porque seja interessante fazer isso. Gosto de saber o que leva alguns autores a escrever certas letras, textos, escritos, etc. E espero que meus leitores entendam que escrever uma letra para uma música é mais ou tão difícil que escrever um poema. E por falar nisso faz tempo que não sinto necessidade de escrever um. Só escrevo poesia quando sinto isso...

Confissão

Até quando permanecerei preso?
Aos seus risos
Aos seus vícios
Eu quero poder sair ileso
Esquecer seus delírios
E os seus enguiços

Eu quero poder viver a minha vida como sempre sonhei
E se de repente para isso eu precise te esquecer
Pode crer que não pensarei duas vezes
Por mais que tudo tenha sido tão bom nesses últimos meses

Você não soube entender meu lado
E exigia que eu entendesse o seu
Você não soube confiar em mim
E no fim olha só no que deu?

A gente se pediu um tempo sabendo que isso não existe
Quando se ama de verdade na verdade isso é uma senha
O que se desenha no horizonte é que o que era pra hoje
Virou ontem, já era!
Não sou ponto de espera
Sou o que vai fazer seu próprio tempo
E quando achar que é o momento
Parto pra outra e escolho
Se for preciso
Arrisco amar de novo
Sem medo... porque:

Eu quero viver a minha vida como sempre sonhei
E se de repente eu precise para isso te esquecer
Pode crer que não pensarei duas vezes
Por mais que tudo tenha sido bom nos últimos meses


(você gostou? - Comente então...)

domingo, 26 de junho de 2011

As Melhores Coisas do Mundo - Parte I

Posterior a seis Artes (Teatro, Música, Pintura, Literatura, Escultura e Dança excetuando arquitetura e desenho deixados de lado pelos romanos e gregos) o Cinema permite sem dúvida um prazer sensorial formidável. Assistir a um bom filme equivale a ter contato com quase todas as outras artes existentes. É como estar numa imensa galeria em que você vê uma exposição, ouve a trilha sonora, absorve a fotografia, “lê” o roteiro, etc.
Como professor, tento sempre que posso utilizar da melhor forma possível essa linguagem para incrementar minhas aulas e com o tempo (após mais de dezoito anos de profissão) comprovando o fato de que um bom filme comentado e debatido vale mais do que algumas aulas. Foi com esse pensamento que nesse ano tenho escolhido os filmes a compartilhar com meus alunos sem a preocupação de necessariamente ser de geografia. O que importa é que a experiência visual permita que se possa conversar depois. E que seja troca de opiniões construtivas.
E já que o assunto do momento é o bullying resolvi escolher um filme no segundo bimestre dentro desse contexto. Logo de cara lembrei-me das resenhas que li sobre um filme nacional que estava passando nos cinemas ano passado. Consegui o filme através de um amigo antes mesmo dele ir pra locadora (se acaso for um dia) que o “baixou” na internet e primeiro deixei que minha filha o assistisse para saber se valeria a pena mesmo passar pros meus alunos de segundo e terceiro colegiais. Ela aprovou! Eu adorei também. Preparei uma conversa anterior com meus alunos e pedi a eles que escrevessem numa folha de caderno as suas dez melhores coisas do mundo.
Aproveito para falar de como o cinema nacional tem melhorado nos últimos anos. Assim de cara cito quatro exemplos de filmes que nada devem a cinematografias de outros países (inclusive os esteites):- 1- “Se Eu Fosse Você” do Daniel Filho com as magistrais interpretações de Toni Ramos (provando que não é só um bom ator de novelas) e Glória Pires. Essa comédia faz rir de verdade e refletir um pouco sobre as diferenças necessárias entre homens e mulheres. 2- “Tropa de Elite – 2” de José Padilha, com o grande ator (esse cada vez mais de cinema mesmo) Wagner Moura. Consegue ser uma continuação ainda melhor que o primeiro filme com mudança de enfoque e muita ação mereceu ter quebrado recordes como quebrou. 3- “Saneamento Básico” de Jorge Furtado, com Fernanda Torres e também Wagner Moura é uma comédia hilariante que provoca naturalmente muitas gargalhadas. Impossível não gostar, embora dessa história de um grupo de amigos e familiares muito simples que se unem para fazer curta metragem. Muito interessante até mesmo como meta-linguagem. 4- “1972” de José Emilio Rondeau, com os jovens Dandara Guerra, Rafael Rocha e Bem Gil é filme despretensioso que se pretende quase retrato de uma geração com caracterização primorosa de uma época em que nosso país ainda vivia sob a ditadura militar. É filme divertido que vai bem numa tarde com amigos, pipoca e coca-cola...
Esses exemplos servem apenas para que tenhamos a certeza de que nosso cinema já tem uma cara, um estilo e certo apuro técnico que realmente não tinha no passado. Bem, depois desse parêntese quero falar de meu projeto com meus alunos. Passei o filme novíssimo da diretora de “Bicho de Sete Cabeças” Laís Bodanski, “As Melhores Coisas do Mundo” com os adolescentes estreantes Francisco Miguez e Gabriela Rocha (Mano e Carol) e participações de Denise Fraga, Fiuk e um surpreendente Paulo Vilhena, com ótimo roteiro que mostra muito bem os anseios e as esperanças de jovens da classe média brasileira trata principalmente de diversos tipos de bulying (essa palavra que infelizmente não encontra tradução adequada ainda para o português) e tem na paixão platônica de um casal de amigos apaixonantes um pano de fundo para um momento de diversão que só a sétima arte possibilita.
Vi meus alunos assistindo num silêncio delicioso. Rindo muito e também se emocionando na excelente sala de vídeo (com datashow, cortinas pretas e cadeiras almofadadas) da escola “Abílio”. As ‘uma hora e quarenta minutos’ das quatro sessões do filme passaram rapidamente e ao final vi sorrisos de satisfação quando o Mano consegue tirar uma das músicas mais bonitas de todos os tempos, “Something” dos Beatles. O impacto visual, a percepção de que a música escolhida pelo adolescente para impressionar a colega de classe era realmente linda, as atitudes do jovem (irmão do Mano) com sua decepção amorosa e o relacionamento conturbado e conflituoso dos adultos foram assimilados de uma forma bem bacana. Permitiu troca de opiniões e deu até a possibilidade de discutirmos sobre a relação professor e aluno. Enfim, deu resultado aquém do esperado.
Sair do lugar comum, fazer da sala de aula um espaço de reflexão e troca de experiências, afinal não é esse um objetivo dos novos parâmetros curriculares?
Entre as dez melhores coisas do mundo está a amizade, a boa conversa, a música, ler um bom livro, os risos dos meus filhos, namorar, um almoço delicioso de domingo com toda a família, uma viagem para um lugar até então desconhecido e porque não assistir a um bom filme e poder comentá-lo depois. É isso que me proponho sempre. Tornar a vida mais fácil de ser vivida é procurar pelas coisas que mais gostamos. Sempre...
http://virou.gr/iEFVzT
Marco Antônio*
@Prof_Marcoant_
...E para você, quais são as melhores coisas do mundo?

A Invenção do Beijo

Numa época terciária e cenozóica a mulher de Neanderthal (sim, não existia só o homem de Neanderthal!), esfomeada... Insatisfeita... Infeliz através de grunhidos lamuriou-se com seu parceiro, que um tanto de forma atabalhoada decidiu sair à caça. Embrenhando-se na floresta deu de cara com um mamute de tamanho médio e com uma estaca em sua mão enfrentou-o. Com algum custo venceu o animal soltando ao fim da luta um berro primata e primário de algo parecido com alegria.
Carregou com certa sofreguidão em seu ombro arcado, o pesado animal até a lagoa onde se banhou e lavou a carcaça do futuro alimento... Foi por impulso que puxou com força a cabeça até arrancá-la do corpo do bicho... Ao ver frutos silvestres devorou-os e prosseguiu quebrando com violência os membros do mamute... O tempo era todo dele, não existia pressa, não existia calma. Não existia sentimento. Nem sei se existia algum raciocínio... Existia era fome e a mulher tinha muita fome. O homem também, mas primitivamente a fome da mulher que permaneceu repousando na caverna era mais importante, de uma importância estranha que ele mal entendia.
A carne do mamute foi o alimento de várias luas, de vários e imprecisos instantes. Os dois comiam lado a lado e ao cair da escuridão, deitados também lado a lado acabavam em dias frios esquentando um ao outro. Havia algo, entretanto... E nenhum dos dois compreendia.
E aconteceu que a carne do mamute estava chegando ao fim sobrando apenas um naco... E o naco tinha uma aparência muito boa... Estava dando sopa sobre a pedra polida no fundo da caverna. Os dois sem entenderem nada ficaram esperando por um sinal qualquer... A mulher já naquele remoto tempo era mais criativa, possuía mais iniciativa e não perdeu a oportunidade que se apresentou... Pegou com rapidez o pedaço de carne e o colocou na boca iniciando a mastigação. Instintivamente, eis que o que se deu foi inesperado, inusitado e incrível: o homem agarrou a cabeça da mulher com quase a mesma força com que arrancou a do mamute luas antes e foi em busca do naco de carne com sua boca na da mulher. Como a carne se encontrava já bem mastigada, ele enfiou a língua e tentou resgatar a carne na boca da mulher. As duas línguas se enlaçaram e se enfrentaram. Ele conseguiu pegar alguns pedacinhos que procurou carregar consigo em sua língua. Ao se desvencilhar ele sentiu comichão estranho que não sabia o que era. A mulher, mais esperta como sempre, entendeu tudo e quis repetir devolvendo a ele com sua boca e língua alguns outros pedacinhos de carne.
E então aquilo se transformou em uma prática diária. O homem passou a caçar ainda com mais disposição e adquiriram o hábito de trocarem comida pela boca e ao dormirem a noite os corpos já não precisavam do frio para permanecer agarrados. Ninguém ainda sabia, mas estava inventado o beijo... E por tabela, o apetite.

sábado, 11 de junho de 2011

Especial para o Dia dos Namorados

Uma crônica e só

Aquele tempo passou.
Não há mais o que lembrar.
Vestígios? Nem isso...
Minhas palavras querem chegar a um ponto e não chegam.
Meu medo é o de sempre: ser compreendido o suficiente.
Para que escrevo?
Não sei... Sinceramente não sei.
Havia um tempo em que eu sabia. Mas como escrevi, aquele tempo já passou.
O que escrevemos nasce da necessidade que temos de entendermos a nós mesmos?
Veremos!

Décio retornou.
No aeroporto encontrou toda sua família. Faltava alguém.
Olhou para os lados, disfarçou o que pôde até perguntar para todos ao mesmo tempo:
- e Fernanda?
O pai tossiu nervoso. A mãe sorriu “amarelo” e finalmente após uns segundos de silêncio imenso a irmã sentenciou:
- ela não veio.
Nada mais foi dito a respeito, pois o irmãozinho mais novo quis saber como era a Itália. Se ele assistiu a algum jogo do time do Ronaldo Fenômeno.
Entraram no carro os cinco. Ele relaxou um pouco pensando que não haveria um lugar para Fernanda no carro mesmo. Angustiou-se, mas se conteve e no caminho apenas limitou-se a contar como são belas as cidades italianas e como foi o único jogo que viu em Roma, sem Ronaldinho que estava contundido.
Chegaram a casa. Pintura nova. Tapete vermelho e uma faixa felicitando o filho vitorioso.
As últimas cartas que mandara não foram respondidas. Não devia ser extravio como imaginara.
Ficou um pouco na sala sem saber o que fazer. A mãe foi para a cozinha preparar um café. O pai foi buscar uns amigos para um churrasco de boas vindas.
Ao irmãozinho aproveitou pra dar alguns presentes. Quase no intimo de seu ser pensou em tudo como algo passageiro.
Que não deveria ter voltado. Que seus estudos foram inúteis e tentando lutar contra aqueles pensamentos chamou a irmã.
Iria perguntar, mas se conteve.
O semblante dela foi o suficiente.
Mais para cortar o silêncio do que por qualquer outro motivo, ela disse:
- Espero que goste da mobília nova do seu quarto. Fui eu que escolhi.
Silêncio.
Décio estava feliz por ter retornado, mas não queria ter motivos para voltar novamente.
Subiu para o velho quarto de solteiro.
Abriu a mala menor.
Da parte lateral, retirou uma caixinha azul, de luxo.
Abriu e chorou.
O brilho do anel que daria para Fernanda como sinal de noivado foi ofuscado por suas lágrimas.
Aquele tempo...
Aquele tempo passou.

domingo, 22 de maio de 2011

Ainda o Tempo...

Sim. Os melhores sentimentos gritam por indefinições.
Clamam pelo extasiante silêncio. Pelo mudo embasbacar-se.
Sim. A explosão de alegria dispensa comentários.
Guarda recônditas confusões na busca de prolongar-se.

Não. Nada é definitivo. O fato de estarmos vivos.
Muito vivos! Não serve de sobreaviso para futuros erros.
Não. Perfeição é coisa de tolo. Sabemos segurar o choro.
Trocar possíveis sensações frustradas por desideratos terrenos.

E então no inicio da noite nos deliciaremos
Com o som dos nossos copos quase cheios.
E perderemos qualquer receio de não sermos nós mesmos.
Para depois, afinal, desistirmos de contar as estrelas,
De ouvir os sons noturnos. Sobrando os costumeiros sorrisos
E o barulho silencioso de fim de festa.

Sim. Os melhores sentimentos são inexplicáveis.
Não. Nada, nada mesmo, se torna com o tempo, definitivo!

Soneto de solidão

Estou só... e conto as lágrimas
De uma legião de anjos solidários
Festejo... sentimentos raros
Um não sei quê... sem palavras.


Estou só... e perco meu tempo
Desperdiço momentos esparsos
Comemoro ferimentos e estragos
De um breve e útil contratempo.


Necessário se faz o que desfaço
Esse imenso e caótico vazio
Que me confere à vida e ao espaço.


Uma sensação de talento e frio
Pois só, sei bem o que faço.
E sou capaz de ser vário, em mil!